sábado, abril 28, 2012


As crianças e a concentração

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Com que frequência seu filho não se concentra exclusivamente em uma tarefa, seja ela escrever um texto ou ler um livro? Ele é constantemente distraído por pensamentos intrusivos, e-mails ou telefonemas, não consegue prestar atenção? Se a resposta é sim, então ele não aprendeu a arte da concentração.
A verdade é que as crianças possuem uma grande capacidade de concentração, o que é evidenciado pelas horas que conseguem passar concentradas em um jogo de computador ou na frente da TV; mas ainda não aprenderam a dominar essa capacidade e aplicá-las a coisas diferentes.
 Atualmente, o estilo de vida moderno que levamos conspira para dificultar cada vez mais o nível de concentração. Espera-se que executemos mais de uma tarefa ao mesmo tempo a fim de podermos produzir mais e mais. O lado negativo desse ritmo incansável é que nossa habilidade de nos concentrarmos está sendo prejudicada.
Cada vez mais pais se queixam de que seus filhos não conseguem realizar suas tarefas  escolares de forma satisfatórias. Estamos descobrindo que as exigências crescentes, ao contrário de facilitarem, podem torná-lo mais difícil, visto que o cérebro precisa se esforçar para trabalhar simultaneamente em várias tarefas. Devido ao nosso comportamento hiperativo e superexcitado, que inibe a concentração ao invés de ajudá-la, podemos, contraditoriamente, acabar contribuindo para que as crianças produzam e aprendam menos do que realmente poderiam desenvolver.
Entretanto, a infância e a adolescência também são períodos em que esperamos muito das crianças. Desde os 5 anos, a educação formal tem a ênfase ao sucesso acadêmico, com a exclusão de quase todo o resto. Ao mesmo tempo em que o cérebro se desenvolve, tanto a personalidade quanto a identidade de nossos filhos estão em formação, com uma série de outras coisas importantes que demandam atenção além dos trabalhos escolares: o desenvolvimento da personalidade, a escolha dos valores, de como o indivíduo quer viver sua vida, o que é importante para ele, tudo é forjado nesse período. Não é preciso dizer que, para muitas crianças, crescer inclui uma ênfase no ajuste a um modelo acadêmico que pode ou não ser adequado a elas. Se elas tiverem a chance de desenvolver as habilidades que facilitarão esse processo, os resultados individuais podem ser produzidos de forma mais bem-sucedida. É grande a demanda pela psicoterapia infantil nos últimos tempos, crianças muito novas com sintomas de estresse, depressão e ansiedade. Como pais e professores, devemos ajudar as crianças a usar suas qualidades positivas a seu serviço e não reprimi-las. Pesquisas sobre felicidade e adaptabilidade permitiram uma compreensão maior do que ajuda a facilitar a concentração e o aprendizado das crianças. A autoestima, frequentemente ridicularizada como a marca registrada do “eu”, é essencial. A autoestima não consiste apenas em termos uma opinião positiva abstrata de nós mesmos; é a capacidade de reagir aos desafios da vida. A habilidade de correr riscos e lidar com o fracasso é desenvolvida a partir de uma autoconfiança adquirida e da convicção de que o esforço é tão válido quanto uma satisfação imediata, bem como da consciência de que somos valorizados por quem somos, e não apenas pelo que realizamos.
Adquirimos esses valores logo no início da infância daqueles com quem convivemos. São eles que nos fazem acreditar que vale a pena tentar fazer algo, pois, sem eles e sem o interesse e a esperança que demonstram, por que isso importa? Não há dúvida, que pessoas mais felizes têm mais tendência a experimentar coisas novas e buscar desafios, oque reforça emoções positivas e promove o sucesso no trabalho, bons relacionamentos a até sua melhor.
Desenvolver habilidades que promovem a felicidade e a autoconfiança ajuda a aumentar a capacidade de concentração. Em um clima de aprendizado conduzido por testes, em que a inteligência emocional pode ser sacrificada pela realização acadêmica, há um forte argumento para reconhecermos e a promoção ativa desse fato. No momento em que introduzimos metas na educação, os estudantes criam estratégias para cumpri-las. O resultado desejado passou a ser a aprovação, e não aprender a apreciar, analisar e refletir. Da mesma forma, é possível que seu filho obtenha um A em espanhol, mas não seja capaz de falar a língua. Talvez precisemos buscar resultamos diferentes na educação, adotando um foco que torne o aprendizado prazeroso, uma abordagem de relacionamento com o mundo à nossa volta e não simplesmente para servir como cumprimento de uma meta.
Então como podemos fazer para ajudar nossas crianças a desenvolverem o tipo de capacidade de concentração que lhes permitirá aprender com mais prazer e sucesso?
Bom, vamos aos inúmeros fatores que contribuem para uma baixa performance quando o assunto é a capacidade de concentração.
 - Maus hábitos alimentares: não é apenas estar com fome que pode distraí-lo de uma tarefa particular, níveis de glicose acima ou abaixo do normal têm efeito direto nos nossos níveis energéticos e também no humor e na capacidade de concentração. O cérebro precisa estar bem abastecido para funcionar, portanto, uma nutrição insuficiente pode levar um baixo desempenho. Acompanhe sempre que puder as refeições do seu filho, assim como acontece com os adultos, a anemia ferroptiva é uma causa surpreendente comum do cansaço, da letargia e, da dificuldade de concentração entre as crianças. As crianças precisam de refeições regulares, e uma boa regra é a de quatro em quatro horas. Os sinais de fome podem incluir um grande mau humor ou insubordinação devido à queda nos níveis de açúcar.  O lanche contudo, deve consistir de alimentos nutritivos, opte por vitaminas de frutas frescas, mingau de aveia, biscoitos integrais. Crianças que se alimentam principalmente de doces, fritas, nuggets de frango, entre outros (junkfood) desde tenra idades, demonstraram uma probabilidade de 10% maior em relação aos seus colegas de terem um desempenho insatisfatório na escola às idades de 6 a 7 anos.
- Ansiedade: crianças que recebem uma educação rígida, com ênfase nos erros, pais deprimidos, ansiosos, ausentes, com problemas de alcoolismo, ou problemas de ordem emocional tendem a apresentar dificuldades de concentração, de se relacionar, entre outros sintomas e distúrbios emocionais. Técnicas de relaxamento e exercícios físicos podem ajudar a reduzir a ansiedade que se transforma em estresse crônico e até mesmo a capacidade de concentração.
 - Insônia: o cérebro passa ao padrão de ondas delta durante o sono profundo, com ondas cerebrais curtas, o que é crucial para a restauração do corpo e da mente. A falta de sono não apenas nos faz sentir cansados, irritáveis e incapazes de nos concentrar, mas também dispara a liberação de hormônios do estresse, que, em excesso, pode impedir que tenhamos uma boa noite de sono. Uma criança cansada terá dificuldade para administrar sua vida, que se dirá de se concentrar, e muito sproblemas comportamentais demonstrados por crianças podem ser diretamente atribuídos a falta de sono. Muitas crianças dormem menos do que precisam. 
- Realizar várias tarefas ao mesmo tempo dando pouca atenção ao que estamos fazendo e realizando coisas mais interessantes. O que é uma preocupação maior é a inclinação de crianças e jovens demonstram para a multitarefa ou o hábito de realizar várias coisas ao mesmo tempo. Seu filho está com o livro no colo enquanto passa mensagem para os amigos no MSN, ouve música e assiste à TV. Não é de se surpreender que ele não tenha tirado boas notas quanto você sabe que ele é capaz de tirar. “Não tem problema”, ele diz, “eu passei!”
Esse tipo de prática de multitarfa tem um grande custo para o cérebro, que foi desenvolvido para processar informações de forma sequencial, e não paralela, e requer aliberação de vários hormônios do estresse para compensar essa aumento de demanda. No final, esse estado acaba parecendo normal. 
 - Humor: não há dúvida que se você estiver calmo e feliz, será mais fácil se concentrar. Para se concentrar, você precisa tanto se sentir bem quanto ter energia suficiente. A concentração requer um humor específico, portanto, ajude seu filho a identificar  seu humor, planejar quando se concentrar em tarefas específicas, organizar e administrar melhor suas emoções. A melhor forma de ensinar isso à ele? Exemplo, pratique!
 Perfil de concentração
 Será algumas pessoas possuem uma capacidade de concentração inata? É certo afirmar que tipos de personalidade diferentes possuem inclinações ou preferências diferentes na forma com que levam sua vida, portanto, quando o assunto é concentração, é útil ajudar seu filho a se conhecer em vez de lutar contra elas, aprender a trabalhar com suas tendências e aptidões inatas. Tipos de personalidade diferentes usam abordagens diferentes quando precisam se concentrar e aprender algo. Identifique como você opera a fim de tirar vantagem de suas preferências.
E como melhorar a concentração do seu filho?
Rotina: por menos atraente que possa parecer, a rotina é ma forma de estabelecer pontos fixos, mas flexíveis, que possam dar a seu filho a oportunidade de fazer algo ao longo do dia o que é necessário para que ele cresça, se desenvolva e se concentre sem ter que se preocupar com o acontecerá em seguida. A falta de rotina pode produzir muitas distrações e criar insegurança e/ou ansiedade.
Café da manhã é muito importante, pois o nível baixo de açúcar  compensa aumento a liberação de adrenalina, essa combinação pode afetar a atenção, concentração e o controle do impulso.
Tempo: encoraje seu filho a dedicar tempo ao que ele está fazendo e desenvolver a capacidade de concentração. Ao manter o foco na atividade e não no resultado e nem concluí-lo o mais rápido possível, ele poderá aprender a concentra-se em apenas uma coisa de cada vez.
 - Escolher atividades ou tarefas que coloquem no limite do seu nível de competência é algo que ajuda sua capacidade de concentração. Algo familiar demais pode tornar-se desinteressante e fazê-lo perder a concentração. Contudo, desafios grandes demais também são pouco estimulantes. Avance gradualmente sua capacidade de concentração.
 - Faça coisas com seu filho: tanto no que diz a crianças menores quanto a adolescentes, dando-lhe oportunidade de trablahar ao lado dele, despertar seu interesse pelo que vocês estão fazendo juntos e ampliar sua extensão da sua concentração
 - Elimine distraçõescertifique-se de que tudo esteja delisgado enquanto ele estiver fazendo a tarefa de casa. Isso pode, encoraje seu filho a trabalhar sem acompanhamento enquanto ele aprende a se concentrar.
 - Equilíbrio: usar a internet, jogar jogos eletrônicos e assitir à TV são hábitos que fazem parte da cultura diária de uma criança e que têm alguns bene’ficios. Contudo, se ela passa mais de duas horas por dia fazendo isso em vez de viver relacionamentos reais está perdendo experiências positivas e deixando de desenvolver habilidades essenciais.
 - Relaxamento: faça intervalos curtos entre períodos de concentração intenso. Cansaço causa lapsos de concentração. Trabalhe bem durante um período de pelo menos 60 minutos, use seu tempo para se movimentar, alongar, beber água. Depois volte a tarefa, revise o que fez e descobrirá que recuperou o mesmo nível de concentração que tinha ao interromper a tarefa.
 - Aprender a tocar um instrumento musical ajuda no desenvolvimento da concentração e encoraja um comprometimento concentrado. Ser capaz de fazer bem alguma coisa também aumenta a autoestima.
 - Organizar seu tempo: duas coisas impedem que seu filho se organize seu tempo de forma eficiente: não se concentrar em uma coisa de cada vez e não conseguir se livrar das distrações. Portanto, desligue o celular, computador, TV, ignore as mensagens que chegarem. Oriente- o a fazer uma lista ordenada de prioridade do que ele tem que fazer.
 - Cochilos de reabastecimento: cochilos de 20 minutos durante o dia pode ajudar a renovar sua concentração, pois renova o cérebro, além de evitar a sensação de sono que experimentamos ao interromper um sono mais profundo.
 - Exercícios físicos: eles aumentam os níveis de endorfina e bem-estar, reduzem o estresse e ajudam na concentração e no sono.
 - Hidratação: a composição do cérebro é de 80% água, a qual é um elemento essencial para as transmissões neurológicas. A desidratação reduz a concentração e o desempenho mental, afetando tanto o comportamento quanto à saúde.
 - Ioga: os vários benefícios da ioga são o aumento da flexibilidade e da força, da mobilidade das juntas e da melhora de postura, concentração, (o que se deve à ênfase dada a exercícios que consistem em manter determinadas posições) e habilidade no controle da respiração.
 - Estimule seu filho a fazer as coisas de forma diferente, pois o interesse torna a concentração  mais fácil.
 Alimentos prejudiciais: não existe um alimento que seja completamente prejudicial, mas definitivamente, existem quantidades prejudiciais de diferentes substâncias. Por exemplo, o açúcar, sua ingestão em pratos semiprontos e alimentos processados faz com que, ao longo dos anos, o seu consumo exagerado elimine o consumo de outros nutrientes importantes como a vitamina B, que é essencial para o sistema nervoso e do cérebro. O sal, em consumo exagerado, pode causar o endurecimento das artérias e elevação da pressão sanguínea afetando o funcionamento cerebral.
Talvez você esteja se perguntando se seu filho inquieto e desastrado, que não consegue se lembrar de nada por mais de dois segundos, tem um problema de concentração maior do que é considerado normal. Seria um caso de hiperatividade comum na infância ou será que ele sofre de dispraxia. Descreverei aqui alguns sintomas da dispraxia, contudo considere que algumas inabilidades são próprias da idade:
- Tem dificuldade de concentração e facilidade para distrair-se;
- Não consegue seguir instruções;
- É desorganizado;
- Tem dificuldade de ficar quieto;
- Tem dificuldade de usar tesoura ou escrever;
- Tem dificuldade para se vestir ou aprender a amarrar os cadarços;
- Tem dificuldade de copiar conteúdo no quadro;
- Tem dificuldade em matemática e criar histórias;
- Lentidão para concluir tarefas;
- Cai ou choca com objetos com frequência;
- Tem dificuldade de andar de bicicleta;
- Tem dificuldade de usar garfo ou faca;
- Não gosta de sensações produzidas por sons altos, etiquetas de roupas, pintura de dedo.
Embora não exista cura para a dispraxia, aprender a lidar com seus impactos pode fazer toda a diferença para a capacidade  de concentração de uma criança e permitir que ela tire o máximo de suas oportunidades de aprendizado. Uma dieta e uma quantidade de sono adequadas, a prática de exercícios físicos e medidas usadas para ajudar crianças a usarem seu potencial podem ser utéis.
Se você suspeita que seu fillho sofre de Transtorno de Déficit de Atenção e/ou hiperatividade, procure um profissional ou um diagnóstico de um especialista em crianças. Mas é necessário manter em mente que há muito o que pode ser feito para ajudar seu filho a lidar com qualquer que seja o motivo de seus problemas. Às vezes problemas comportamentais não são o que parecem ser.
Fonte: GRIFFEY, H. A Arte da Concentração. São Paulo, Larousse do Brasil, 2010. 304 p.

2 comentários:

Nós, Os Cachorros disse...

Ótima postagem como sempre!!!
Parabéns!!!
Beijos

Professor Gilberto Cantu disse...

Oi tia Marcinha.
Fazendo uma visitinha à minha amiga.
Muito boa a sua postagem.
Hoje nossas crianças são educadas para não se concentrarem. Jovens também. É claro tirando os transtornos.
Quanto menos se concentra menos se pensa.
Muito boas suas dicas.
Um grande abraço.
Paz de Jesus em seu coração.

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