Como estabelecer limites
Cotidianamente ouvimos falar em
dificuldades de agentes socializadores como pais e professores em gerenciarem
limites em relação a crianças e adolescentes. Pais assoberbados pelas tarefas
profissionais ou mesmo domésticas, tendem a passar menos tempo com os seus
filhos e, frequentemente, delegam a responsabilidade de sua educação a
terceiros, como a própria escola. Outros, tem tempo para seus filhos, porém, não
sabem como gerenciar as dificuldades no estabelecimento de
limites.
Tanto os pais quanto os
professores têm dificuldades em entender tanto o comportamento de suas crianças
como o seu próprio comportamento. Alguns, movidos pela 'culpa' em função do
pouco tempo dispendido aos filhos, acabam por fazer concessões que podem
desfavorecer o aprendizado de regras culturais e morais importantes. Há ainda,
quem aja sob influência de orientações oferecidas em tempos passados, em que a
educação caracterizada por limites muito severos era criticada, entendendo que
dizer que 'não' aos filhos pode ser 'prejudicial'. A excessiva severidade, de
fato, é desaconselhada, mas o 'laissez-faire' é igualmente
prejudicial.
Ausência de regras e limites na
educação de crianças pode trazer sérios problemas ao relacionamento pais e
filhos, além de produzir adolescentes e adultos com falhas em seu
desenvolvimento pessoal e social, entre eles, a ausência de resistência à
frustração e a infelicidade pessoal; o favorecimento do envolvimento com drogas
e outros comportamentos infratores como a delinquência juvenil ou, até mesmo, o
desenvolvimento de 'psicopatias' ou 'sociopatias'.
A análise do comportamento e a
psicologia possuem inúmeros estudos que comprovam a eficácia de algumas medidas
razoavelmente simples, que os pais desconhecem ou encontram dificuldades
adicionais em sua implementação. No entanto, a ausência de compreensão de termos
técnicos e a ausência de 'tradução' ou disseminação em linguagem leiga podem
dificultar a apropriação deste conhecimento pelos interessados. Tentaremos
oferecer algumas orientações básicas a seguir:
Em primeiro lugar, é necessário
definir quais limites se deseja estabelecer, ou seja, o que 'pode' e que 'não
pode'ser feito, o que vale a pena proibir, quais regras vale a pena estipular ou
não. Isso varia de acordo com a época histórica em que vivemos, com a cultura na
qual estamos inseridos, com cada família e com a idade da criança ou do
adolescente, bem como o seu nível de desenvolvimento. Uma vez estabelecidos
quais limites respeitar (horário de dormir, das refeições, dos estudos, das
saídas com amigos, gerenciamento da mesada etc.), é necessário explicitá-los
antecipadamente por meio de uma conversa, deixando claras quais conseqüências se
seguirão ao seu descumprimento. Qualquer limite deve ser o mais claro possível
de modo a eliminar qualquer ambigüidade, deve ser breve e conciso de modo a
eliminar intermináveis rodeios e justificativas, em outras palavras, deve-se ir
direto ao ponto.
É importante agir com firmeza e
sem hesitação. Uma criança identifica quando um não pode ser um talvez e, nesse
caso, não irá cumprir o estipulado. Pais e professores inseguros em suas
decisões geram crianças que testam suas possibilidades, de acordo com seus
desejos, que nem sempre são os mais recomendáveis naquela situação
.
A palavra 'consistência' é de
extrema relevância na aplicação de limites anteriormente estabelecidos. Quando
se define que algo não pode ser feito, a regra não deve ser 'furada' de acordo
com o 'bom humor' do responsável pela criança e novas regras não devem ser
estipuladas baseadas no 'mau humor' de que as aplica. Não se volta atrás em um
limite anteriormente estabelecido sob pena de ensinar a criança ou o adolescente
que regras servem para ser descumpridas. Alguns pais discordam em relação ao que
é ou não permitido e, nesse caso, recomenda-se que conversem e entrem num acordo
sobre o que é básico cumprir, evitando confusão ou manipulação por parte da
criança.
As crianças não ficam infelizes
com a imposição de regras e limites. Pelo contrário, sentem-se mais seguras
sabendo o que podem ou não fazer, e podendo prever o que ocorrerá em caso de
descumprimento. Pais que não toleram a frustração momentânea de seus filhos
ensinam que deve-se obter tudo o que se deseja a qualquer custo e que qualquer
sofrimento é intolerável. Um limite não deve ser quebrado porque a criança teve
alguma reação negativa. É natural que ela teste os limites e é função do adulto
manter o que foi combinado anteriormemte.
Os limites, uma vez colocados,
devem ser respeitados. Como fazer isso? Fornecendo as conseqüências previstas
para o seu descumprimento e das quais a criança já deverá ter sido informada
anteriormente (não brincar por não ter estudado, ir para o quarto se estiver
jogando tudo no chão, não ir ao shopping se a nota tiver sido baixa etc.)... Não
se deve acenar com uma conseqüência que não se poderá fazer valer e nem
estalebelecer limites que não valem a pena ser cumpridos.
É importante dizer que, além de
prover consequências restritivas ao descumprimento de limites, conseqüências
positivas devem se seguir ao cumprimento dos limites. A criança deve ser
incentivada a cumprir acordos com elogios, atenção e afeto contingentes à
adequação de seu comportamento no respeito aos limites. Mais e melhor do que
punir o inadequado é reforçar o que é adequado.
Muito mais poderia ser dito sobre o assunto, mas vale enfatizar que os pais devem ser um modelo de comportamento para os filhos. Nesse caso, não vale o 'faça o que eu digo mas não faça o que eu faço'. Pais com dificuldades em seguir regras e limites, que fazem as próprias leis e que desrespeitam normas e acordos em seus relacionamentos pessoais e profissionais ensinam os filhos a fazerem o mesmo.
Algumas das orientações
anteriores podem parecer fáceis e até ´óbvias', mas o fato é que adultos em
geral tem uma grande dificuldade em implementá-las. Alguns tentam uma vez e não
se concedem o direito de errar, desistindo em seguida. Mas o estabelecimento e o
cumprimento de limites é uma aprendizagem para pais e filhos que vale a pena se
permitir. Em caso de necessidade, vale a orientação de sempre: Procure um
profissional especializado para ajudá-lo!
Por: Dra. Maria Ester Rodrigues
Fonte: Escritos Comportamentais
Fonte: Escritos Comportamentais
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